Os textos desta seção foram extraídos e/ou adaptados do livro Xiloteca da Universidade Federal do Amazonas: Coleção Dr. Valmir Souza de Oliveira. Organizador: Mady, F.T.M. 2017. 36 páginas, Ilustrado. Editora Eco & Companhia. ISBN 978-85-67160-03-0. Todos os direitos reservados. All Rights reserved. Para utilizar partes deste texto, citar a fonte.
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Estudar madeiras
A humanidade, para sobreviver, desde tempos imemoriais precisou compreender o mundo natural ao seu redor. Compreender incluía identificar e reconhecer as plantas que eram comestíveis, os vegetais que poderiam ser venenosos, as fibras que seriam usadas na confecção de utensílios, as madeiras para produzir casas, barcos e armas. Dessa forma, o estudo das plantas se tornou útil e fundamental ao homem. Teofrasto, grego que viveu entre 369-202 a.C., é considerado o pai da botânica e do estudo de madeiras. Entre os diversos tratados que deixou, há uma lista onde classifica mais de 500 espécies de plantas cultivadas.
Estudar a madeira é um importante passo no sentido da preservação dos recursos naturais, na compreensão da evolução da vida vegetal e na adoção de tecnologias que permitam usar este maravilhoso recurso da natureza sem esgotá-lo.
As florestas, em particular, sempre representaram uma papel essencial na esfera econômica, ecológica e social. Florestas tropicais têm participação na manutenção do equilíbrio dos ecossistemas, além de possuírem rica biodiversidade, apresentando alta relevância como fonte de recursos naturais, madeireiros, medicinais, alimentação, recursos energéticos, ecoturismo e pesquisa.
A madeira foi uma das primeiras matérias-primas naturais usadas pelo homem. A sua abundância e múltiplas utilidades, somadas ao conhecimento empírico de suas propriedades físicas e mecânicas, contribuíram para a popularização de seu emprego pelas civilizações primitivas. Através dos séculos, conheceram-se exemplos históricos e notáveis de seu uso, como aqueles referidos no Gênesis e no Novo Testamento: Arca de Noé, a Arca da Aliança e a Cruz utilizada no martírio e na crucificação de Jesus Cristo (Brotero, 1941; Cavalcante, 1983, 1986; Mattar et al., 1996; Paula e Alves, 1997).
Informações como propriedades físicas, químicas, biológicas e mecânicas, somadas à necessidade comercial, podem ser atendidas por estudos de anatomia e características da madeira e podem estar contidas em uma coleção de madeiras, uma xiloteca. Além disso, templos históricos como o Todai-ji, na cidade de Nara, no Japão, construído em madeira no ano de 728 d.C. (até hoje recebendo visitantes) e a Igreja da Transfiguração, na Rússia, construída em 1714 são exemplos da influência da madeira na civilização.
A madeira é o herói não reconhecido da revolução tecnológica, que nos impulsionou da cultura da pedra e dos ossos para a nossa época presente (Perlin, 1992).
A madeira foi a principal fonte de fogo e permitiu ao homem habitar e sobreviver em regiões frias. Alimentos não comestíveis foram modificados com o calor do fogo da madeira e tornaram-se importante fonte de nutrientes. O barro pôde ser convertido em cerâmica, útil para o armazenamento de alimentos e até para urnas funerárias. Cozido, o barro originou os tijolos usados nas construções. O homem pôde moldar os metais e com isso produzir ferramentas para a agricultura, embarcações e armamentos. O carvão e a madeira serviram para aquecer a água do mar e dela extrair o sal. A madeira aqueceu a areia da praia e deu origem ao vidro. O transporte seria impensável sem a madeira (até o século XIX, todos os navios eram construídos de madeira – os navios de junco não tinham resistência para cargas). Carruagens e carroças também eram feitos de madeira. Pontes eram (e em muitas cidades ainda são) de madeira. Os dormentes dos trens eram confeccionados exclusivamente com madeira. Rodas d’água, moinhos, cabos de ferramenta, etc. a madeira sempre esteve presente em tudo que o homem fez. Só a madeira serve para os mais finos instrumentos musicais, como violinos, violoncelos e pianos.